quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O Golpe do Tênis

   Conforme prometido, chegou a hora de contar a verdade sobre o desastrado "Golpe do Tênis". Uma história que certamente deve interessar a Camponovenses e Curitibanos. Golpe que, talvez, originalmente seja chamado de "golpe do cheque perdido", mas devido as circunstâncias, foi remoldado especialmente para os patos, eu e meu primo. É Juninho, claro que não vou passar toda essa vergonha sózinho. Meu primo na história, é o Alvadi Serpa Júnior, hoje engenheiro da Embraer, ontem, mané logrado por espertalhões.
   Mas chega de rodeios e vamos logo à história.
   Em 1993 eu e meu primo tinhamos 18 anos. Eramos estudantes vindos de Campos Novos. Pra quem não conhece, Campos Novos é uma cidade do interior de Santa Catarina, muito conhecida pelo fato de que homens nascidos lá, são muito machos e  mulheres, muito bonitas. Nessa época cursavamos Técnico em Mecânica no, então, CEFET-PR.
   Um de nossos passatempos preferidos era dar umas voltinhas  pelo calçadão da XV de Novembro. Quem vem do interior normalmente se sente muito importante andando no meio de tanta gente. É como se fosse um : "Quase venci, se já tô no meio dessa gentarada, dois toque e tô rico. Só volto pra Campos Novos de carro. Vô esfrega meus dinheiros nas fuças daquelas baba-filho-de-fazendeiro ". Hahaha, até dá saudades. Em um desses passeios estavamos próximos ao chafariz da Praça Osório, em meio a muita gente, que caminhavam ligeiros pelo calcadão. Quando um sujeito, todo pintoso, passou em nossa frente esbarrando, e deixou cair um papel no chão.
   Já estava me esquecendo de contar um fato muito importante do episódio. Voltemos  30 minutos antes da cena do calçadão. Havíamos passado no caixa automático do Bamerindus ( aquele da musiquinha, ... o tempo passa, o tempo voa e a poupança Bamerindus continua numa boa ...). Pensem que há 20 anos atrás raríssimas pessoas já haviam ouvido falar sobre internet. Caixa de banco era uma das únicas formas com  que a maioria das pessoas poderia ter acesso a um computador, inclusive eu. Não haviam notícias de  máquinas fotográficas plantadas roubando senhas, ou cartões clonados. Inclusive, as senhas tinham apenas 4 digitos e permitiam sacar tudo o que fosse possível, fundos e limite. Os ladrões da época roubavam senhas espionando os usuários dos caixas, a olho nú. Pois bem, avancemos novamente 30 minutos.
  Como eu havia dito, o sujeito deixou cair um papel no chão. Percebemos que caiu, mas ignoramos. Não parecia ser nada importante, o sujeito já estava longe. Então, inesperadamente, outro pedestre pegou o papel, e todo afoito veio em nossa direção:
   _ Vocês deixaram cair isso  ?
   _Não moço, foi um cara que já deve estar longe - respondemos prontamente.
   Mas  insistiu, e quase que obrigados, concordamos em  ler o papel com ele. Nesse instante surgiu o sujeito boa pinta novamente. Quando nos viu com o papel na mão, já veio agradecendo, muito feliz e sorridente,  pois se tratava de um cheque ao portador de grande valor, conforme ele explicou. Então dissemos que deveria agradecer ao outro rapaz, que verdadeiramente havia achado o cheque. Só que o outro, em um surto repentino de modéstia, falou prontamente:
   _Nós 3 achamos o papel.
   Como a situação estava bastante atrapalhada, ficamos quietos. Mas o feliz proprietário do cheque foi falando:
   _Se eu houvesse perdido esse cheque meu pai me mataria, vocês 3 acabaram de me salvar. Sou muito grato e preciso recompensa-los.
   _Que é isso, não precisa recompensa nenhuma - respondemos imediatamente.
   _Mas eu quero recompensar, você merecem. Vou dar uma quantia em dinheiro pra cada um.
   _Não queremos nada não, fique tranquilo - continuamos recusando.
   Então o sujeito nos olhou da cabeça aos pés e falou :
   _Eu poderia dar um tênis pra vocês, meu pai tem uma loja de calçados, seria um prazer, vocês escolhem o que quiserem.
   Nesse momento nossos olhinhos  brilharam. Poxa, o cara pegou nosso ponto fraco. Que coisa poderia ser mais legal do que um Nike, um New Balance , talvez um Rainha System ou um Puma Disc, já pensou ? O anzol estava na nossa boca, e é claro que  demos aquela bocada. Nhaacc.
   _Sendo assim, hehehe, vamos aceitar sim - flutuando de tanta alegria.
   Então ele perguntou pro outro rapaz que realmente havia achado o cheque, se concordava. Ele também aceitou.
   E seguimos para a loja de calçados, que por sinal era bem próxima ao local que morávamos.  Em uma galeria, ali atras da rua 24 horas, no inicio da Visconde do Rio Branco, que saia na Dr Pedrosa. Eu e meu primo não lembrávamos de ter nenhuma loja de tênis no local, mas ficamos na dúvida, pois não eramos de reparar muito. Ao chegarmos a uns 50 metros da entrada da galeria o recompensador falou :
   _É ali, no meio dessa galeria, mas tem um detalhe. Meu pai é um homem muito idoso, então se chegarmos todos juntos ele  pode enfartar. Então proponho que vá um de cada vez, explique o acontecido pro velho e escolha seu tênis.
   A história era estranha, mas estávamos embriagados com a possibilidade de faturar um  tênis. Teríamos cuidado, mas iriamos ver em que tudo aquilo ia dar. Então ele continuou:
   _Primeiro vai você - apontou para o outro rapaz - leva o cheque junto, pro velho acreditar que você está falando a verdade.
   E o rapaz pegou o cheque e foi entrando. Nesse instante, o recompensador, que ficou esperando conosco, disse :
   _Vai que ele foge com esse cheque ?
   Nos olhamos e ele chamou de volta o rapaz :
   _ Ei cara, volta aqui. Você pode deixar alguma coisa de valor com a gente, só pra garantir que não ira fugir com esse cheque.
   Então ele voltou e respondeu:
   _Só tenho esse pacote de dinheiro dos meus patrões, sou office boy. Vou deixá-lo com vocês.
   Entregou o pacote e entrou na galeria. Enquanto isso, o recompensador boa pinta sugeriu que dessemos uma olhada no conteúdo do pacote. Eram dois maços de dinheiro, um com notas de 50 dólares e outro notas de 5 reais.
   Depois de 5 minutos o "boy" saiu contente da galeria. Trazia consigo uma nota de 50 reais ( creio que equivaleria a uns 500 reais hoje, mais ou menos o preço de um tênis de marca). Falou que não havia encontrado nenhum calçado do seu agrado, então o velho tinha lhe recompensado em dinheiro.
   Depois disso o recompensador falou :
   _ Agora é a vez de vocês. Peguem o cheque e deixem alguma coisa de valor conosco, enquanto aguardamos.
   _Não temos nada de valor.
   _Pode ser a carteira mesmo - falou o sabidão.
   Então demos uma pensada e resolvemos deixar a minha carteira, eu não tinha um centavo furado . Tirei meu cartão do Bamerindus, guardei no bolso, e entreguei a carteira pro cara,  nos dirigimos pra entrada da galeria. Enquanto isso ele deu uma geral na minha carteira e gritou :
   _Voltem aqui.
   Voltamos.
   _Eu tô vendo que não tem nada de valor nessa carteira, vai que vocês resolvem fugir com esse cheque ?         Não podem deixar outra coisa, tipo um cartão de banco.
  É claro que o leitor deve estar pensando que o contador desse causo é um completo idiota, não que não seja, mas naquela hora a possibilidade do tênis embaçava nossos pensamentos, então era necessaria uma solução pra manter o cartão seguro e ainda verificar se existia a loja mesmo. Santa idiotice. Então, veio a idéia brilhante:
   _Vou deixar meu cartão aqui, mas meu primo fica junto e entro sozinho na galeria.
   O cara relutou, mas como não abrimos mão da condição, topou.Agora estava tranquilo, com meu primo guardando os pertences eu poderia entrar pra pegar meu tênis. E foi o que fiz, mas de repente vejo meu primo correndo em minha direção, falei :
   _ Juninho, você devia estar cuidando das minhas coisas, o que tá fazendo aqui ?
   _Ele me deixou ficar com tua carteira e também com o pacote de dinheiro do "office boy". Tô com tudo aqui. Ele só ficou com o teu cartão- respondeu.
   _Bahhhh, então vamos ver se existe a tal loja.
   Claro que não tinha nada, entramos correndo na galeria e saímos correndo mais ainda. Os sujeitos já haviam sumido.
   Resolvemos correr pra agência o mais rápido possível, afim de cancelarmos o cartão. Era ali na Dr Murici esquina com a XV de Novembro. Enquanto corríamos, fomos abrindo o pacote de dinheiro do office boy . Era somente uma nota em cada maço, o restante era papel jornal.  Em uns 5 minutos estávamos na agência, chegamos e cancelamos o cartão antes que os golpistas conseguissem sacar dinheiro.
   Depois de passado o susto rimos muito, pois acabamos tendo lucro no golpe. Era uma nota de 5 reais e outra de 50 dólares. Os reais eram veradadeiros e usamos pra pagar a confecção do novo cartão, que na época era cobrado e caro, pouco menos os 5 reais. Os dólares não tivemos coragem de usar, pois era uma nota muito surrada, com cara de ser falsa. E era, mas não fomos nós que descobrimos.
   Na época tinhamos um amigo muito divertido, o Fernando Foronda, nosso colega do CEFET.
  O Fernando era o cara dos "briques", rei da compra e venda  no Alo Negócios. De imediato se prontificou a fazer a troca da nota, pois conhecia um câmbio no edifício Asa. Pegou o dinheiro e saiu. Uma hora depois voltou, estava pálido, bem assustado. Ao verificar que a nota era falsa o cambista havia dado uma prensa nele, queria chamasse seus pais ou iria mandar prende-lo, mas com um pouco de sorte conseguiu ser liberado, sem a nota, é claro.
   E assim terminou a história. Tudo verdadeiro, inclusive os nomes. Se passaram quase 20 anos, mas a os fatos continuam frescos em minha cabeça. Fico feliz em ter tido a disposição para compartilhar e tenho certeza que os envolvidos ficarão muito empolgados ao lerem.
  Tenho muitas hitórias, algumas com meu irmão, o Alberto Fernando Spolti e outras com o Marcelo Pinto da Silva. Pretendo conta-las também. Gostaria que alguma dessas virasse um conto paranaense, contado pelos atores da nossa terra no Casos e Causos do RPC. Então amigão, se gostou me dê uma força, vire meu seguidor ou poste no seu Twitter, Facebook, Buzz, banheiro público, orelhão ...
   Abraço do Butiá Maduro.